segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A vida está na garrafa de conhaque...

"A vida está na garrafa de Conhaque, na fumaça de um charuto de Havana, nos seios volutuosos da morena. Tirai isso da vida-o que resta? Palavra de honra que é deliciosa a água morna de bordo de vossos navios' que tem um aroma saudável as máquinas de vossos engenhos a vapor! que embalam num farniente balsâmico os vossos cálculos de comércio! Não sabeis da vida. Acende esse charuto, Penseroso, fuma e conversemos."
Trecho de Macário de Álvares de Azevedo

sábado, 29 de outubro de 2016

Adeus!



Adeus a minh’alma perdida!
Despedaçada na sobriedade.
Em prantos e separada da vida,
Sem essência e sem liberdade.

Deixa-me a vida toda vazia!
Sonhos, desejos ou amores
E toda a beleza vadia...
Com os sonhos gritando horrores!

Sem emoções, palavras e quase sem coração.
Pesadelos d’um’alma jazida sem paixão!

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Bem no meio de lugar nenhum.



Era noite e eu vagava. Não tinha sequer lembrança de como havia chegado ali. As ruas desertas a medida que cruzava, meu caminho era incerto e minha mente estava tortuosa. Fazia tanto calor, cada passo tornava-me mais pesado, minhas pernas doíam, eu suava e o frio não era sequer uma vaga reminiscência. Foi quando em meio aos devaneios fui desperto por um som, eram passos ecoando no vazio da escuridão. Foi quando a vi.
Nossos olhares se cruzaram e o mundo parou. Ofegante, o coração disparado, eu parei, olhei para trás. Ela me encarava. Quem é você dama da noite, a quem me desvia de meu torto caminho? Mesmo no calor, com seu passo adiante eu gelei. Quem é você, que tira minha paz do desconforto e me desperta? Mais um passo, eu caminho junto.
Não há mais ninguém na rua, apenas sons distantes da noite urbana, um carro, uma sirene, um trem... Quem é esta que me olha nos olhos, não a conheço, nunca nos vimos, ainda assim não consigo tirá-la de minha mente. Mais um passo, resigno de todo meu percurso destinado ao inferno ou seja lá onde estaria indo. Seria ela um anjo me livrando do purgatório? Ou um demônio me condenando pelas minhas luxúrias?
Mais um passo, estamos cara a cara. Vejo agora seu semblante, os olhos penetrantes querem me engolir começando pelo olhar. Sinto uma leve brisa, um alívio que para me lembrar do calor. Mas agora piora, ela sorri. Em todo sorriso sinto uma pontada de conforto em minha alma, vejo suas mãos se movimentando, as minhas vão instintivamente ao encontro.
Mas espere, ela foge? Onde vai, dama da noite? Por que me cativa e depois corres de mim? Não sei seu nome, sequer ouvi sua voz, tudo que tive foi seu sorriso, devo contentar-me com isso? Eu caminho, fito-a, sigo-a a medida que se vira com seu olhar convidativo, e todas as minhas incertezas se vão quando ela me chama com os dedos.
Paro próximo a ela, de costas vejo seu cabelo, quase consigo sentir seu cheiro. Ela se vira, tem o mesmo olhar, o mesmo sorriso. Nossas mãos vão se encontrar novamente. Eu a toco, mas não consigo, não a tenho. Não está ali. Será um fantasma? Uma alma penada em busca de companhia para a eterna agonia da solidão. Estendo minha mão, que meu caminho seja seus lábios, dama da noite. Abraço-a, vejo seu sorriso e lhe beijo. E eu desperto. Em minha cama vazia, no quarto semi-iluminado pela lua, na noite quente. Ainda ouço os carros, a sirene e o trem, mas não saio do lugar. Tudo que tenho agora é o resquício de um sorriso, e assim termino a noite, contentando-me com migalhas de minha própria ilusão.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Desafeto



Este desafeto
Que me afeta
E desatina
A saudade
Que se objeta
Perdida nas carícias
De lembranças inerentes
E palavras coerentes
Que me torna objeto
De meu próprio amor
E rancor
E me afeta
E desafeta

Mosca

Diário do Dr. Fleubermann Paciente nº 003764 Curioso e peculiar o caso deste paciente em específico. Ainda me lembro bem da primeir...