quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Quando Deus criou o homem, na verdade ele já pensava em sua aposentadoria. Sabia que com o livre-arbítrio o homem cedo ou tarde causaria sua própria ruina, poupando-lhe grande esforço.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Hoje uma homenagem

Manuel Antônio Álvares de Azevedo... Pra mim ele foi O mal do século. Quem me conhece sabe o quanto sou fã dele. Aqui vai um de meus favoritos.

Lembrança de Morrer

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
– Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai… de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos – e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei… que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores…
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo…
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos…
Deixai a lua pratear-me a lousa!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

E esse sonho que não para de sonhar
E essa vida que não para de andar
E todas as rimas que não podem faltar
Será que um dia isso vai acabar?


Anderson Marques Mileib

domingo, 10 de janeiro de 2010

A Fúria

Meu coração agora só diz seu nome
E arde nas eternas chamas reluzentes.
E reluz a cada letra contundente
Gritando seu nome em paixão ardente.
Completamente em chamas,
Inflama!
Como aos olhos que a lágrima derrama,
Branda o sangue que ao chão reclama
Banhando em vermelho, fúria inigualável
Como o sangue como o céu inimaginável
Como um toque no cabelo inalcançável.
Um ardil grito na insípida solidão
Modelando a si, grandiosa paixão.


Anderson Marques Mileib

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Um pequeno conto

Jeremy subia as escadas do hotel na pequena cidade vagarosamente enquanto olha em seu relógio: 3:15 da manhã. Com seus calmos passos ele se lembrava da conversa que teve com Kate no bar do hotel, se lembrava de seu lindo rosto, seus lábios vermelhos e seus cabelos negros como a noite, lembrava-se de como via suas mãos alvas tocando a taça enquanto conversavam, da forma como ela olha em seus olhos enquanto ele falava, parecia que ela via dentro de seu corpo, parecia ver sua alma.
Ainda podia sentir o gosto do vinho barato servido no bar do hotel, havia ficado cerca de uma hora depois que Kate subiu para seu quarto, tempo de sobra para alguns copos e um cigarro. Jeremy passava pelos quartos enquanto se lembrava de sua noite, tirou um papel do bolso com o número de um quarto rabiscado em um guardanapo para não se esquecer, 102. Lá estava ele, tocou na maçaneta, estava aberta. Jeremy entrou e viu o quarto envolto pela penumbra, apesar de seus olhos já estarem acostumados com a escuridão o quarto não estava totalmente escuro, havia uma fresta de luz da lua cheia que entrava pela janela entreaberta, Jeremy fez questão de verificar a janela, abriu-a e olhou para cima, escada de incêndio, em baixo uma lixeira grande, bem típico, pensou com ironia.
Jeremy parou ao lado da cama e viu que Kate acordou quando ele entrou no quarto, não fez questão de ser furtivo. Ela o olhava, parecia ter um pouco de incerteza de quem estava ali, suas vistas ainda rodavam por causa da bebida.
-Jeremy, é você? Veio me fazer companhia esta noite?
Jeremy sentou-se na cama, tocou no rosto alvo de Kate, suas mãos deslizavam de sua face para seus cabelos, até seu pescoço, e então a beijou. Enquanto a beijava tinha a impressão de ver um mundo de cores se misturando quando fechava os olhos, foi aí que Jeremy ouviu uma voz, não era dentro de sua cabeça, era em seu ouvido, como se estivesse do seu lado “ela sabe, ela sabe seu segredo”. Jeremy ficou inquieto, por alguns instantes parou de beijar Kate, olhou em seus olhos, ela retribuiu o olhar e se beijaram novamente. “Será que não viu como ela olhou em seus olhos? Olhou no bar e também olhou agora, ela sabe seu segredo, mate-a”. Jeremy ficou confuso, começou a beijar Kate com mais força, suas mãos tocaram seu pescoço novamente, pode ouvir um gemido ao tocá-la. “Mate-a agora ou ela irá contar!” A voz agora estava agressiva e apesar de não saber ao certo de onde vinha e de quem era Jeremy sabia que era verdade, devia fazer algo antes que Kate escutasse a voz.
Suas mãos começaram a apertar seu pescoço com mais força, Kate começara a gemer e a tentar gritar, porém não conseguia, sentia-se fraca, sua cabeça ficava mais leve aos poucos e sua vista começou a escurecer, porém não desistiu de lutar. Quase em seu último esforço, Kate conseguiu chutar Jeremy e afastá-lo, porém estava sem forças e Jeremy já se recompunha e caminhava em sua direção. Kate olhou para o lado e viu um copo e sem pensar pegou-o e atirou na cabeça de Jeremy, o copo se quebrou em dezenas de pedaços fazendo Jeremy gritar e recuar um passo, porém ele não desistiria.
Jeremy ouvira novamente a voz dizendo “pegue a garrafa de vinho antes que ela a veja” e quase que instantaneamente os dois olharam para a garrafa, Kate estava mais próxima e foi mais rápida para pegar a garrafa, porém Jeremy estava preparado e segurou seu braço quando ela tentou atacá-lo e com a outra mão bateu em seu rosto, com isto a garrafa caiu na cama e ele a pegou. Kate tentou atacá-lo novamente, mas ele era mais forte, segurou suas mãos com uma mão, deixando sua cabeça desprotegida, a última coisa que Kate pode fazer foi virar a cabeça, tentando desviar inutilmente do golpe com a garrafa.
Ao bate na cabeça de Kate a garrafa fez um som oco que ecoou no quarto escuro, a garota desmaiara com o ferimento na cabeça, porém a garrafa não se quebrou. Jeremy bateu novamente, desta vez com calma e usou toda sua força fazendo a garrafa estilhaçar em sua cabeça misturando o vinho com sangue no lençol branco e barato da cama do hotel. Jeremy ainda quis se certificar de que ela estava morta e perfurou sua garganta com o gargalo da garrafa e ao terminar ouviu alguém batendo na porta, um dos empregados do hotel que ouvira a confusão talvez, Jeremy não poderia ter o luxo de saber e rapidamente correu para a janela e desceu a escada de incêndio.
Jeremy correu por algumas quadras até ter certeza de que ninguém o viu. A madrugada estava fria, ainda faltava cerca de uma hora para o sol nascer. Enquanto caminhava se sentia um pouco fraco, quando encostou em sua cabeça viu que estava sangrando. O copo que Kate lhe acertara deixou uma feria e provavelmente deixaria uma cicatriz. Decidiu ir até o hospital cuidar do ferimento, caso alguém perguntasse diria que foi numa briga de bar que eles acreditariam, sempre acreditam. Ao chegar no hospital, uma bela enfermeira que estava no plantão o atendeu, ela era morena e tinha os olhos verdes, ele aproximou-se e disse cordialmente:
-Olá, meu nome é Jeremy...

Mosca

Diário do Dr. Fleubermann Paciente nº 003764 Curioso e peculiar o caso deste paciente em específico. Ainda me lembro bem da primeir...