sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Um conto desta vez

O Som do Silêncio


“De repente não parece ser mais tão ruim assim...” Pensava o jovem enquanto estava sentado em um banco de uma praça qualquer, acompanhando os movimentos de uma noite de outono com a fumaça de seu cigarro, quase uma sincronia perfeita. “Afinal de contas, o que é a morte? A morte é um vazio total, é isto e nada mais. Não existe céu nem inferno, existe a vida e depois dela o que vem é um vazio, não se ouve mais nada, não se vê mais nada, não sente mais nada... Os sentimentos deixam de existir” Esta frase se repetia em seus pensamentos, batiam em sua cabeça como um martelo.
“Como será não sentir mais nada?” Pensava ele enquanto apagava o cigarro no banco e se levantava. Não era uma noite fria, mas ventava muito, o bastante para se agasalhar e andar com as mãos nos bolsos. E com passos displicentes ele continuava com seu pensamento. “O que sentimos quando não sentimos nada? Não consigo imaginar um vazio total, mas talvez... Tenho esta lembrança, a primeira de todas. Antes de tudo era como um vazio, como se nada mesmo existisse, daí eu simplesmente acordei, quanto tempo faz? Talvez uns vinte anos ou mais, desde aquele dia que eu acordei e disse para mim mesmo e para todos que foi o dia em que eu nasci, antes de tal dia não existia nada e de repente tudo passou, estranhamente parece tudo ter passado rápido demais, os amigos, a escola, os aniversários, são todas lembranças opacas e vagas agora, como se fosse um filme que eu tivesse visto muito tempo atrás. Será que é isto mesmo? É... não parece mais ser uma idéia tão ruim agora.”
Enquanto caminhava sem rumo, o jovem se ocupava com seus pensamentos, até chegar há uma rua com algumas crianças brincando e, debaixo de uma árvore, havia um casal, adolescentes talvez, conversando alegremente. De repente ele parou, seu coração bateu mais rápido, suas mãos começaram a suar e suas pernas ficaram trêmulas, mesmo sabendo que não conhecia o casal, neles ele havia projetado sua agonia, a agonia de ser acusado injustamente, o que poderia fazê-lo perder a única pessoa em sua vida que dava um real significado a palavra amor. E ele continuava seus pensamentos...
“Há quatro dias nesta mesma hora estávamos sentados, conversando alegremente como aquele casal, por ironia conversando sobre o auto-extermínio, e como isto seria ridículo e improvável. Há exatos quatro dias eu era a pessoa mais feliz do mundo. Há dois dias não nos vimos por causa de imprevistos, iriamos sair de novo e reafirmar que era a pessoa mais feliz do mundo. Há quatro horas a idéia de auto-extermínio me veio na cabeça. Há três dias eu me declarava a ela e dizia não desejar outra mulher neste mundo. Há um dia eu percebi que havia algo muito estranho nela. Há quatro dias eu era a pessoa mais feliz do mundo. Há quatro horas ela gritava comigo ao telefone. Há quatro minutos eu começo a pensar que a idéia de auto-extermínio não seria tão ruim.”
“Como o tempo pode ser tão relativo e imprevisível? Como as coisas mudam desta forma? Agora eu estou pagando por um crime que sequer cometi e por isto posso perder a pessoa que mais amo neste mundo depois de minha família, eu posso perder a pessoa que será minha família. Sei muito bem como é viver sem ela, sei bem pois já passei por isto antes. É, aquele vazio agora, aquele que senti um dia antes de dormir quanto pensei sobre a morte, onde estremeci cada músculo de meu corpo e quase caí em prantos agonizantes, de repente não é mais tão ruim assim.”
“Estranho ele pensava, como assim estranho? Não estava estranho, nada de anormal acontecera, somente os mesmos problemas, as mesmas merdas de sempre.” E continuava caminhando, cada segundo parecia uma hora, o tempo não passava, era como se tivesse visto todo o mundo em uma caminhada. E todas aquelas pessoas em todos os cantos, todo aquele barulho e tantos gritos. Tudo que ele mais queria era sumir, desaparecer, não ver mais nenhuma pessoa, não ouvir mais nenhum som ou nenhuma voz, simplesmente ficar em paz.
“Tirar a própria vida, ele pensava, já senti tanta dor, deveria sentir mais?” E durante alguns minutos de sua caminhada, tudo que ele conseguia pensar era em uma velha música “Olá escuridão, minha velha amiga, eu vim para conversar contigo novamente. Por causa de uma visão que se aproxima suavemente, deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo, e a visão que foi plantada em meu cérebro ainda permanece entre o som do silêncio” E o contagiante som não saia de sua cabeça, nunca ouvira tal música com sua amada, sequer havia comentado com ela sobre a música, porém ele a sabia, letra por letra, acorde por acorde.
“É uma música linda, seria meu silêncio absoluto, meu vazio, ele pensava, pelo menos é uma boa trilha sonora.” Olhou para seu relógio, quase nove horas. “Onde esta caminhada me levará? Preciso conversar com ela, não posso perde-lá, não posso. Eu descobri a verdadeira liberdade, descobri que a liberdade é viver a minha própria escolha, descobri que sou livre. Não conseguirei viver sem ela, não posso.” E em passos displicentes o jovem chega a casa de sua amada. Ele a chama, ela atende. Ela tem olhos raivosos, ele tem olhos tristes, ela está impaciente, ele cansado, ela não acredita nele, ele nunca havia pensado em magoa-lá. Ela o ama, e ele a ama.
-Olá – Ele disse
-Oi – Ela respondeu
-Sei que você não quer me ver e eu...
-É, eu não quero – Ela o interrompeu.
-Tente entender, eu não fiz nada, não aconteceu nada, você não pode me julgar assim por um pressentimento...
-Eu já fiz minha escolha – Ela o interrompeu novamente – Eu não acredito em você.
Neste momento seus olhos encheram-se de lágrimas, ele tentou não chorar mas não adiantou, pareceu ridiculamente estúpido. Depois de ter passado por tanto, depois de tanto se agonizar, depois de tanto sofrer e de tanto amar. Ele levantou a cabeça, e a viu a rua movimentada, carros, motos, ônibus e caminhões, eles não param de passar, e tudo que ele queria era paz.
-Não há outro jeito então, eu não...
-Não, não há outro jeito – Ela o interrompe pela última vez.
-Então é assim, depois de tanto lutar eu perdi. Perdi por algo que não fiz, quanta ironia, Sr. Destino.
Ela ia dizer algo quando ele virou as costas, a rua continuava movimentada. -Se não posso viver mais com você, não posso mais viver. - Disse ele com o rosto virado para ela. Ele novamente deu-lhe as costas, uma última lágrima escorreu sua face, uma gota caiu no vidro do ônibus, um segundo levou para que ele se jogasse na sua frente, um milésimo levou para o motorista pisar no freio, o ônibus levou um segundo para parar depois que um jovem se jogou em sua frente, e um grito foi tudo mais que ele ouviu. Em um segundo, uma eternidade se passou em seus pensamentos, ele via apenas sua amada, e agora ele repetia para si mesmo: “Olá escuridão, minha velha amiga, eu vim para conversar contigo novamente. Por causa de uma visão que se aproxima suavemente, deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo, e a visão que foi plantada em meu cérebro ainda permanece entre o som do silêncio” Seu silêncio havia finalmente chegado. E sua amada agora estava ajoelhada, com as mãos no rosto, não acreditando no que acontecera. E ela chorava.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Inferno Distante

Caminhando pelo limbo esquecido
Seu semblante pragueja pelos ventos
“Como pude ser um tolo distraído...

Dos dias com o coração aquecido
Sonhando tê-la em minha frente
Quando pela vergonha fui atingido

Eu corri como um guerreiro fugindo”
Sente que a terra treme em seus pés
Aos poucos a forma vai se esculpindo

“Você que escreve me belos versos
Reis e rainhas narram-lhe sentimentos
para que por você, sejam expressos

Cada sentimento lhe é estendido
E agora com uma bravura irônica
Foi exatamente por eles que impedido”

Era o destino falando-lhe às costas
E mesmo incapaz de se mover-se
Ele já tem preparada a sua resposta

“É você destino que assim me encosta
Mesmo que já tenha escrito a história
É contra você destino, minha aposta

Mesmo que me impeça de lhe falar
Mesmo que não possa vê-la mais
Jamais me impedirá-me de amar

O silêncio em mim não ira mais plantar
Digo agora, de uma vez por todas
Digo a ti destino, eu irei lhe mudar

Enfrentando demônios, custe o que custar”

Anderson Marques Mileib

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

o homem do buraco

O que faz o homem no buraco?
Teria caído ou teria pulado?
Ou será que ele foi jogado?

Ele se move, ouve! Ele grita algo!
O que grita o homem perdido?
Será um recado, último pedido?

O que fez este homem
Para ser assim abandonado
E as outras pessoas somem.

Estão todos caindo neste abismo?
Todos caindo, quanto cismo!
Talvez dentro seja eu, não eles.

Anderson Marques Mileib

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Minha Fé

Satirizo minha desgraça do dia a dia
e o faço com muito gosto e vontade
talvez uma pequena dose de ironia.
Nunca me esquecendo: Oh! Bondade.

O seu escarnio já me foi mastigado
Tamanha ironia agora é nauseante
Antes eu tivesse apenas parado
Mas tornei-me um tolo falante!

Arranco as entranhas do estômago
O que fazer se não há de ser feito?
Você não vê e ninguém bota defeito

Mais ainda existe, lá no âmago
Passa as noites puxando meu pé
Onde foi que guardei minha fé?


Anderson Marques Mileib

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O que seria?

Hoje percebi... Será que eu sou tão indiferente assim? Foi mais uma prova de que eu realmente sou tão calmo ou até mais, quanto as pessoas dizem, ou então extremamente anti-social, talvez um pouco dos dois. Pois bem, lá estava eu todo feliz indo para a faculdade, com o corpo no ônibus e a mente nem sei onde, quando me vi obrigado a sair deste mundo, um barulho, buzina, freios bruscos, “aaaiiii” (este grito que não sai de minha cabeça), e de repente as pessoas caindo, um silêncio de alguns instantes que parecia uma hora e todo mundo se desesperando, levantando, comentando, resmungando, xingando e tudo mais no gerúndio. E eu me perguntei se teria sido diferente minha reação, quando vi aquelas pessoas caindo, parecendo em câmera lenta, com tanta indiferença, se o ônibus estivesse correndo mais, se os vidros tivessem estourado e as pessoas tivessem se machucado de verdade, será que no fundo desejei isso? É, meu ônibus bateu. Que trágico... Parecia que todo mundo pulou na batida menos eu, fiquei lá quieto, minha respiração não mudou, minhas mãos não tremeram nem suaram, só achei ruim, chegaria atrasado na faculdade. Que coisa, todo mundo nervoso, tenso, fumando, ansioso e parecia que só eu fiquei calmo, afinal de contas que calma é essa? Eu só me sentei e fiquei lendo meu livro, enquanto as pessoas foram levadas para o pronto-socorro, xingavam e se indignavam, e eu sentadinho, lendo meu livro. Olha só, poderia ter sido jogado do banco, batido a cabeça no vidro da janela, quebrado o pescoço, se eu tivesse em pé poderia cair, sei lá mais o que, será que isso é normal? “Perdi um horário” eu pensei “agora não vou perder minha passagem, outra eu não pago.” E enquanto isso a senhora ia para o pronto-socorro com o braço machucado, junto com sei la mais quem se machucou, de fato acho que não me importei, só fiquei lá, lendo meu livro, nem pensei que poderia ter machucado, talvez tenha até me machucado e não vi, só fiquei lá, com meu livro...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Impasse

Pior do que um coração partido é um ego destruído. Acabei de perceber. Tamanho é o sentimento do ego disfarçado de emoção, seria mesmo emoção? É um impasse, uma tremenda barreira, onde eu podia fazer de tudo com qualquer um, de repente me vi impedido, eu mesmo me impedi, bati a cara contra essa parede. Tão forte que até machucou. E só hoje fui perceber. Só hoje? Poxa, como fui tolo, cego... A verdade estava o tempo todo estampada em meu semblante. “Olha pro espelho, quem é que você vê afinal de contas?” Não era o coração, não era o amor, era o ego, sempre foi o tempo todo... Era minha imagem refletida, minha impossibilidade, minha barreira auto-gerada, por isto então me machucava tanto, era o meu limite, por isso é como se fosse uma farpa dentro de minha unha, inflamando, cada vez mais fundo. O que foi isso? Foi a chuva? O cigarro, as pessoas, essa sensação que tenho sentido de que eu de repente fui jogado em um mundo estranho? Por que será que não ficou tão óbvio assim logo no começo? E de repente... o vômito, essa ânsia se expurga de meu corpo, gosto ruim, não sai da boca, ou seria da cabeça? Essa sensação estranha na barriga, indigestão, é o ego. É, isto é amor ou paixão, vai saber... Eu amei com o ego ao invés do coração, e pior que um coração partido é um ego destruído...

Mosca

Diário do Dr. Fleubermann Paciente nº 003764 Curioso e peculiar o caso deste paciente em específico. Ainda me lembro bem da primeir...