segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Incongruente

Vazio incongruente
A alma que se dizia
Vazia, demente...
O rosto que sempre sorria

Era incapaz de amar
Mas seus olhos ainda brilhavam
Já não podia voltar
No tempo onde se matavam

Já se foi a era
Dos cigarros e tentações
O passado é uma quimera
São meras recordações

E o futuro displicente...
Arquitetará um rosto contente?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um conto...

Lembro-me até hoje, de quando eu era criança e ia com minha família para a roça de meu avô. Nessa época, eu tinha cerca de 13 anos e minha família era muito unida, e como tenho muitos tios, também tenho muitos primos, quase todos da mesma idade, deixando a casa sempre cheia. Para chegarmos na, passávamos por uma pequena cidade chamada Carmo do Cajuru, e depois entrávamos em uma espécie de comunidade rural que na verdade eu nunca soube seu verdadeiro nome, mas que sempre foi por mim conhecido como Ribeiro. Depois que saíamos da cidade, que era metade do caminho para a roça, andávamos cerca de 10km pelo Ribeiro até chegar na propriedade de meu avô. Mais ou menos na metade deste caminho havia uma propriedade onde tinha apenas uma pequena casa, meu pai sempre dizia que aquilo um dia foi uma escola que pegou fogo, e sempre ao lado da pequena casinha vazia havia um cavalo, todas às vezes era a mesma cena.
Houve uma vez em que eu e meus primos queríamos ir até esta casa, apenas por questão de curiosidade, pois sabíamos que nossos pais muitas vezes contavam histórias mentirosas quando não sabiam de algo, apenas para nos assustar ou para não ter que explicar muito. Quando mencionamos para nossos pais que iríamos a casa, fomos repreendidos e xingados, como se estivéssemos fazendo alguma coisa realmente errada ou perigosa, o que apenas aumentou nossa vontade de conhecer a tal casa. Como não podíamos ir enquanto estava cedo, eu e mais 2 primos fomos até a lagoa que tinha na parte de baixo da roça para nadar e aproveitamos para bolar um plano de como iríamos até a casa.
Passaram-se algumas horas e tudo ficou decidido: não demonstraríamos mais interesse na casa já que nada adiantaria, mas decidimos ir escondidos ao entardecer logo após o churrasco que nossos pais iriam fazer, já que sempre ficavam bêbados e a partir daí seria mais fácil e para encobrir nossas pistas resolvemos não contar nada para nossos outros irmãos e primos, ninguém saberia aonde iríamos.
O restante do dia foi uma agonizante espera, até que finalmente, por volta das 18:00 quase todos estavam apagados ou ocupados demais jogando baralho para perceberem ou perguntarem alguma coisa. Fomos até o quarto para procurarmos três lanternas, mas encontramos apenas duas, e como meu pai estava apagado neste quarto, resolvemos não prolongar muito nossa busca. Saímos dando a volta por trás da casa para evitar suspeitas ou perguntas que poderiam nos entregar, e realmente ninguém nos viu.
Nossa ida até a casa foi bem tranqüila, estava entardecendo e tínhamos sempre uma bela visão de uma floresta, as vezes víamos alguma casa ou passava algum carro. Depois de cerca de uma hora de viagem, já estava um pouco escuro, mas ainda não precisávamos das lanternas; estávamos no alto de um morro e lá em baixo, no pé do morro podíamos ver a tal escola que para nossa surpresa estava com um lampião aceso do lado de fora. Ao ver meu primo cutucou meu braço e disse “ta vendo, mora gente lá, mas vamos descer e ver quem mora, depois a gente conta pros outros.”
Quando chegamos à metade do morro, luz se apagou, mas como estávamos determinados em nossa jornada, continuamos o caminho. Ao terminar de descer, já estava escuro e um pouco frio, pois ali perto tinha um córrego, mas achamos melhor não ligar as lanternas por enquanto. Assim que paramos em frente a casa eu reparei algo peculiar: o terreno parecia bem pequeno, cerca de 15x15 metros e ele era totalmente cercado por arame, não tinha nenhuma entrada nele, e nenhum sinal de vida também, nem mesmo o cavalo estava lá, mas onde costumava ficar eu vi que não havia mato no chão e um pequeno toco preto, quase invisível na noite, queimado. Nos terrenos do lado o mato em volta da casa era grande, apenas nela era bem pequeno e curto, parecia que era aparado. Passar por debaixo da cerca velha não foi nenhum desafio para mim ou para meus primos e assim que pisamos naquela propriedade estranha eu senti uma brisa mais forte, e lá o chão era mais duro até mesmo que a estrada de terra onde sempre passavam carros e carroças.
Caminhamos em fila indiana ao redor da pequena casa, que tinha apenas uma única janela sem vidros e na parte de trás, escondida havia uma carruagem bem velha, primeiro pensei que o cavalo a puxava, mas logo percebi que estava estragada, os bancos estavam pela metade, a madeira estava podre e dificilmente agüentaria o peso de uma pessoa e suas rodas estavam tão enferrujadas e sujas que se alguém tentasse mover a carruagem as rodas ficariam totalmente imóveis, e ela parecia estar a tanto tempo parada que suas rodas de ferro estavam afundadas no chão cerca de 5 cm.
Depois desta rápida exploração tomamos coragem e chegamos a porta da casa. Ela era azul e rústica, com a tintura caindo aos pedaços em alguns lugares, não havia porta e o chão estava todo empoeirado e como não havia nenhum sinal de vida, resolvemos ligar as lanternas. Para nossa surpresa, a casa estava totalmente vazia, sem nenhum móvel, e nenhuma marca de presença humana. Dentro desta casa havia apenas dois cômodos em um deles, o principal havia o que um dia foi um quadro negro, com metade queimado, deste lado da sala o teto e as paredes também estavam todos pretos, quase em cinzas, o que se estendia até o outro cômodo onde aparentemente o incêndio destruiu tudo inclusive o teto da pequena escola.
Estávamos entretidos quando reparamos uma forte luz do lado de fora como se fosse uma lanterna bem forte. Tamanho foi o susto que saímos correndo para o lado de fora da casa, mas não vimos absolutamente nada lá. Um de meus primos se apavorou e logo saiu da propriedade com uma das lanternas e disse para irmos logo embora enquanto ligava sua lanterna e subia o morro. Eu e meu outro primo vimos algo que nos chamou atenção antes de subirmos, havia algo estranho naquele toco em cinzas bem no meio do terreno, onde não havia grama em volta, ele parecia estar estalando. Chegamos perto cautelosamente e percebemos que ele estava não só estalando, mas também estava quente em volta dele. Neste momento eu senti um arrepio em todo meu corpo e comecei a tremer, se antes não estava com medo a partir daquele momento eu estava totalmente apavorado, foi aí que vimos uma luz de uma lanterna dentro da casa e o vulto de alguém atrás. Fiquei olhando pensando ser meu outro primo, mas de repente vi meu primo que estava comigo dar passos para trás pálido como um fantasma, foi aí que reparei que não era meu primo lá, porque eu o via na metade do morro com sua lanterna acesa.
Saímos correndo de lá o mais rápido possível e quando estávamos correndo passei ao lado do toco sem perceber. Subimos o morro correndo com todas as nossas forças e quando já não víamos mais a casa nós paramos, apontei a lanterna para meu pé e vi que estava vermelho como se estivesse perto do fogo e um pequeno pedaço de meu tênis estava derretido. Meus primos assustados foram correndo para o rumo da roça, eu antes de correr dei uma olhada para a casa no pé do morro e vi uma centelha de fogo se apagando. Apavorado, corri para junto de meus primos e sequer toquei no assunto.
Durante todo o caminho de volta para a roça, estávamos assustados e correndo, mas ainda assim suávamos frio, algo parecia estar atrás de nós, embora olhávamos frequentemente para trás não víamos nada, o tempo todo nós ouvíamos barulhos de cascos de um cavalo galopando rapidamente mas nunca o vimos, apenas durante um instante pensei ter visto um vulto branco bem distante que me lembrou o cavalo que sempre via na propriedade.
Quando finalmente chegamos na roça, já passavam das 9 da noite e estávamos mais calmos. Descemos o caminho para a casa mais tranqüilos e a estranha sensação passou, mas por dúvida eu olhei para trás e vi uma pequena luz passando, meu primo disse ser um carro, apesar de não termos ouvido nada, mas mesmo assim consegui convencê-lo a subir e ver. O chão estava quente e não havia nada na estrada, apenas um rastro muito longo que nenhum de nós nunca havia reparado antes, de cerca de 5 cm de profundidade, comentei com meu primo que esse buraco parecia com aquele perto das rodas da carruagem na casa, subitamente meu primo me olhou com uma cara estranha e perguntou “Mas que carruagem? Não tinha nada naquela casa.” Na hora percebi que fiquei tão branco quanto ele ao ver o vulto dentro da casa, e sem falar nada apenas desci para a nossa casa na roça. Depois daquele dia combinamos de nunca mais falar sobre o que aconteceu e ninguém jamais soube desta história.
Semana passada fui a roça de meu avô, que agora é de um tio meu, fui com minha namorada e um casal de amigos meus, iríamos acampar. Faz mais de 10 anos que isto aconteceu, muita coisa mudou no caminho do Ribeiro até a roça, mas a estranha escola que pegou fogo continua lá, parada no tempo e seu cavalo também, sei que ele me olhou e me reconheceu quando passei de carro olhando para a casa, eu senti isso. Isso e um calafrio que nunca mais vou esquecer ao ver a velha carruagem no mesmo lugar e dois rastros de rodas que saem exatamente das rodas dela e, embora um pouco apagados pelo tempo, passam exatamente na porta da propriedade da roça.

Mosca

Diário do Dr. Fleubermann Paciente nº 003764 Curioso e peculiar o caso deste paciente em específico. Ainda me lembro bem da primeir...