terça-feira, 28 de abril de 2009

Um pequeno conto...

A Ponte

Caminho passos distraídos, lentos e até confusos; por vezes passos largos e apressados, com medo, apavorados. Passos displicentes e pensativos, chegam até a ser poéticos e cheio de lirismos, até que filosofando entre as árvores e nuvens eu me deparo com uma luz alaranjada, serena e calma, fraca. Eis que vejo surgindo a ponte, com seus canteiros tímidos e mal cuidados, com seu ar impregnado pelas águas do rio e pela sujeira das locomotivas. Olho para trás: nenhum sinal de vida; olho adiante: vazio como o cérebro de um louco dopado e sedado por várias medicações. Continuo meus passos... Passos lentos, sem rumo, pensativos e as vezes dançantes, vejo a paisagem se modificando aos meus pés, vejo carros passando, vejo um velho andarilho do outro lado da rua refletindo sobre suas experiencias de vida enquanto admira a suavidade das águas ao sereno do luar. Caminho meus passos, respiro fundo: o ar entra, a fumaça sai, é quase uma dança... Uma dança frenética com uma velha brincadeira de rua “fumante que é fumante diz dez palavras sem soltar fumaça” risos e devaneios. O fluxo é interrompido! Em meio a tantos carros que passaram, um chama a atenção, perturba o a ordem e gera o caos, buzina, ilumina e grita... Ah e a sirene, ela não para. O velho olha, as árvores olham, a lua olha, eu olho e até o vento para, todos em uma estranha reverencia sombria pelo silêncio que fora quebrado. Mais alguns passos... meus últimos tragos e em um último ato de consciência apago o cigarro e não o jogo nas águas frias da noite, deixo as margens da ponte para que o vento faça o resto do serviço. Agora a ponte está a seus últimos passos, sinto calor, a mochila incomoda, cabeça leve, sinto-me mais alto... Estou voando! E voando passo pelos lugares, deixo de caminhar e começo a correr, vejo toda eternidade passar diante de meus olhos em formas de pessoas, ricas, pobres, saudáveis e degeneradas. Converso com a lua e com as estrelas, fazemos filosofias e questionamentos sobre a vida e a existência, sobre músicas e o universo... Ah, o universo! Sou interrompido. “Quantas horas aí mermão?” diz ele. “Onze e meia” sem olhar no relógio. “Como sabe as horas sem olhar no relógio?” questionou. “Pela posição da lua e das estrelas, pela conversa e pelos fatos, pela ponte.” E assim continuo seguindo meus passos distraídos, lentos e até confusos...


Anderson Marques Mileib

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Cemitério

Todos os dias vejo o alvorecer.
Nas terras férteis do cemitério
E assim fica até o anoitecer.
De todos os mortos, monastério.

São as terras férteis crepusculares,
Não existem mais flores plantadas
Somente as árvores secas seculares.
E os túmulos das viúvas cantadas.

E a noite não existe mais o chão.
É onde se pisa apenas na terra nua,
Não se ouve nem o próprio coração.
É o futuro com sua realidade crua.

Restando apenas o som do silêncio,
Grande vazio obscuro, interminável.
E todos esses nomes em extenso
Nos túmulos, terra fértil, inigualável


Anderson Marques Mileib

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ironia

Escrevo para reis e Deuses
Rainhas, vestais e tudo mais
Já fui venerado e quer saber
Até mesmo sou odiado...
Quanta ironia isto para mim
Poder escrever tanto assim
E sequer poder comprar um gim...

Anderson Marques Mileib

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Vermes

Malditos vermes!
Que comem lixo
e sujam as ruas.
Malditos sejam!
Comem minhas entranhas
e também as suas.
Malditos sujos!
Maltrapidos e fétidos
sujam as águas e se engrandecem
Malditos vermes!
Nascem e crescem
reproduzem, envelhecem
e depois morrem.
Odeio estes vermes.
Acham que o mundo é seu
Você é um verme...
e também eu!


Anderson Marques Mileib

Mosca

Diário do Dr. Fleubermann Paciente nº 003764 Curioso e peculiar o caso deste paciente em específico. Ainda me lembro bem da primeir...