domingo, 28 de outubro de 2012

Zona de Conforto


O silêncio é minha zona de conforto...
Um sábio conselho que nada agrada
Pode ser uma vida não aproveitada.
É o mesmo por ter sido natimorto.

A vida a passar em meus pensamentos.
O silêncio é minha zona de aborto,
Tudo que preciso é um olhar torto
Não são palavras nem sentimentos.

Poderia sair, fugir e até voar...
Bastaria abrir a boca e falar.

E qual seria a voz de um morto?
A agonia da lugar as palavras ao falar,
Da voz, o som do silêncio a se calar.
Não, o silêncio é minha zona de conforto...

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


-Tenho sempre o mesmo sonho quase todas as noites, não sei explicar, mas parece tão real que às vezes não consigo distinguir quando estou dormindo ou acordado. – Dizia o homem sentado no divã, na mesma posição que sempre o fazia todas as semanas.
-Você sempre fala destes sonhos, pois me diga o que é desta vez. São as luzes? É o carro? – Respondeu o psiquiatra.
-Sim, são luzes, mas você sabe doutor, não é o carro, é o outro sonho, sempre vem da mesma forma. Eu acordo de madrugada em minha cama, tudo está exatamente como deixei na noite anterior, escuto barulhos no outro canto da casa e com medo de que seja um ladrão vou verificar. No caminho acendo todas as luzes que passo, quando chego na sala, sempre na sala eu vejo este vulto, ele sempre corre para o próximo cômodo da casa e eu vou perseguindo até o último quarto e quando acendo a última luz vem um clarão e tudo se apaga, então desperto em minha cama novamente.
-Você sempre relata este sonho, Carlos, você persegue este vulto no qual não consegue distinguir a forma até o quarto que era de vocês antes do acidente não é?
-Exatamente, não sei dizer quem ou o que é esse vulto, mas é sempre a mesma coisa.
-Já faz muito tempo desde o acidente e você ainda se culpa por não ter conseguido controlar o carro, mesmo sabendo que não foi sua culpa. Você sabe disto, Carlos, já lhe disse muitas vezes que sonhos são desejos inconscientes. Sua esposa foi jogada para fora do carro e você se coloca em uma condição de querer pegá-la, mas nunca consegue, este vulto que sempre vê é ela e justamente quando o cerca no quarto que era de vocês é que acontece a parte que você mais se culpa, você não consegue pegá-la, não importa o quanto corra. Este seu sonho tem sido um grande obstáculo em nosso trabalho terapêutico.
-Mas não é um sonho, é real. Quando sonhamos sempre tem algo diferente, mas é tudo tão vívido, não pode ser um sonho, será que estou ficando louco?
-Você não está ficando louco, Carlos, esta é a forma que você busca aceitar os fatos inconscientemente do acidente, você precisa aceitar isto, não há mais nada a se fazer. Tome, vou lhe receitar alguns calmantes que vão fazer seu sono mais pesado, talvez ajude com os pesadelos.
No mesmo dia antes de voltar para casa Carlos comprara os remédios receitados, tomou na hora indicada e em pouco tempo já estava sonolento até adormecer. Carlos despertou em seu carro, na noite chuvosa em que o acidente ocorrera. Via a rodovia vazia de madrugada, a chuva caindo no chão, sua esposa ao seu lado, mas nada podia fazer, suas ações limitavam-se a olhar. Foi quando viu a forte luz do caminhão que aparecera do nada, estranho não ter reparado já que estavam em um ponto reto da rodovia e, como nada podia fazer, Carlos focou sua atenção nas luzes. Neste momento tudo começou a ficar mais devagar, não havia mais nenhum som, era como se estivesse dormindo em um quarto bem fechado, mas a luz chamava sua atenção cada vez mais forte e mais próxima, até que Carlos finalmente viu o que não havia visto seis meses atrás, a luz não vinha frente ao carro, estava em cima, este exato momento veio o clarão e depois tudo escureceu.
Carlos despertou assustado e olhou para a porta de seu quarto e lá estava o vulto, tinha certeza agora que não sonhava. Levantou-se rapidamente, acendeu a luz e pegou seu telefone. Pensou em discar para o psiquiatra, mas tinha certeza que havia alguém em sua casa, ligou para polícia. Enquanto o telefone discava, Carlos corria e acendia as luzes da casa, até chegar ao quarto que dividia com sua esposa, lá não viu mais ninguém, apenas os corredores de luzes acesas que deixara para trás.
-Polícia Militar, boa noite, em que posso ajudar? – Uma atendente no telefone.
-Alô, tem alguém invadindo minha casa – dizia Carlos ofegante – Eu vi, o persegui até o outro quarto mais agora ele sumiu, tenho certeza que ainda está aqui.
-Muito bem senhor, mandaremos uma viatura, qual é o endereço?
Carlos tentava dizer, mas não ficara mudo quando viu a luz de seu quarto se apagando. Ouvia barulhos de passos, ruídos estranhos enquanto todas as luzes se apagavam uma atrás da outra, até a luz do quarto que estava se apagar. Os segundos que seguiram pareceram horas para Carlos, barulhos, vozes, gemidos, vultos pareciam rodeá-lo. Estavam em toda a casa, do lado de fora, estavam ao lado de Carlos.
-Senhor, qual é o endereço? – Dizia a atendente, acordando Carlos de seu transe.
De repente, um clarão. O mesmo do dia do acidente.
A atendente apenas ouviu um grito desesperado que fora cortado quando a ligação caiu.

Mosca

Diário do Dr. Fleubermann Paciente nº 003764 Curioso e peculiar o caso deste paciente em específico. Ainda me lembro bem da primeir...