quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O último do ano

Tudo que ele queria era esquecer. Esquecer e ser esquecido, mas não se esquecer de todos e por todos ser esquecido, pois ele também queria lembrar e ser lembrado, porém ele não conseguia. Seus sonhos realizavam-se turvos e nada parecia deixar de ser medíocre, tanto que sob seus olhos até as mais belas cores tornavam-se insípidas e ele sempre perguntava, por quê? Fez viagens errantes por sobre a terra e quando não havia mais lugares para viajar, invadiu o confuso e enigmático mundo dos sonhos e lá tanto tempo ficou que por fim falava a linguagem dos sonhos e aos poucos as pessoas iam distanciando-se por não entenderem as metáforas. Por fim ficou só, fora esquecido, mas não esqueceu, então decidiu fazer-se para esquecer foi aí que percebeu que nada podia fazer. A tragédia escorria em suas mãos, passava por entre seus dedos e caía como o sangue que saí de uma ferida e toca ao chão anunciando a iminência de uma tragédia, nada pode ser feito. Então, ao perceber que tudo que ele tocava morria, resolveu tocar seu próprio rosto.


Anderson Marques Mileib

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